11 de agosto de 2014

[TEXTO] fé pública


Então. Que existe perseguição contra todas as religiões e até contra quem não tem religião é fato conhecido e bastante divulgado. Mas vamos tentar entender o que incomoda o outro em relação a fé alheia. E neste ponto não sou estudioso do assunto, sou Ateu e apenas observo e tenho minha opinião. Lá vai ela.

Entendo que religião seja a demonstração da fé em um elemento sobrenatural, uma ligação espiritual com o criador (ou algo semelhante), natureza, santos, ou como queiram chamar os religiosos, embora hoje em dia as religiões estejam mais confundidas com empresas, com negócios da fé.
Mas essa demonstração de fé na maioria das vezes é feita em locais privados, igrejas, templos, terreiros, centros, etc. e algumas vezes extrapola a esfera privada para a pública.. procissões tomam as ruas, em comemorações dos dias de seus santos, as vezes numa quantidade tão grande que o poder público tem que intervir com fechamento de ruas, etc. Outras religiões fazem suas festas e comemorações em praias ou oferendas em esquinas, outros abordam na rua, na porta das casas e apartamentos.. quem nunca atendeu a campainha de casa e teve que ouvir um religioso oferecendo algum tipo de convite para sua igreja, para aderir a sua fé?
Escolas com ensino religioso, repartições públicas com elementos religiosos, feriados religiosos, tudo isso contribui para que a religião saia da esfera particular e entre na pública.. Partidos políticos com bancada religiosa, tentam aprovar suas leis religiosas para a sociedade civil como um todo. E ainda tem a divulgação religiosa virtual, mas isso é uma outra história..

E aí, na minha opinião, mora o grande problema. Estamos vivendo atualmente um conflito de guerra entre Israel e Palestina, que dura milhares de anos, e temos um exemplo vivo de um conflito que, além da disputa por terra, tem a disputa religiosa extremamente visível. Aceitar e respeitar a fé alheia é possível e desejável a partir do momento em que ela se encontre na esfera particular e privada. Ninguém é obrigado a aceitar uma oferenda na esquina de sua casa, com uma galinha morta, um prato de farofa, velas e bebida alcoólica decorando a sua rua (apesar de eu gostar muito de pegar os copinhos de cachaça..kkkk), ninguém é obrigado a aceitar que alguém bata a sua porta para falar da sua fé, mesmo sendo a mesma que a sua, ninguém é obrigado a ter um dia de interrupção no seu direito de ir e vir por causa de uma procissão, ou aceitar deixar de trabalhar para comemorar a data de um santo, seja ele da sua religião ou não.
Os conflitos se dão nestes momentos, quando um adepto de uma religião obriga o adepto de outra ou aquele que não tem nenhuma a passar obrigatoriamente pelos seus ritos na esfera pública. Isso é imposição e isso incomoda, acontece um pouco aqui, um pouco mais depois, até um dia em que não se aguenta mais e se reclama. A forma de reclamar é que as vezes também ultrapassa os limites da civilidade e respeito. Mas é como a história da gota d'água, tanto bate que um dia fura.

Bem, eu tenho um caso aqui na minha rua. Moro num bairro de Niterói (RJ) essencialmente residencial, onde existe comércio apenas na avenida principal. Evidentemente uma ou outra casa pode ter um pequeno comércio, do tipo caseiro, alguém que faz doces e bolos, outros que consertam aparelhos eletrônicos, outros que fazem serviços manuais, etc.. eu mesmo crio websites e faço design gráfico a partir de casa.. mas nada que incomode a vizinhança. 99% destes comércios são informais, e muitos não tem regulamentação na Prefeitura, enquanto que outros são permitidos. Escolas, bares, restaurantes, fábricas, igrejas e muitos outros são proibidos, embora vc ache um ou outro ilegal.. Mas definitivamente uma área residencial não é local para misturar comércio de grande porte.
A uns 2 anos abriu um centro (não sei de qual religião, mas parece ser Umbanda ou Candomblé, e confesso que não sei a diferença) que tem semanalmente uns 2 dias que ficam bastante cheios, fora as festas grandes que chegam a fechar 3 quarteirões em volta.
Isso me incomoda. Não pela religião mas pelo barulho e pela quantidade de carros parados na rua (que é bem estreita) que dificulta a circulação. Já teve um domingo que pararam dois carros em frente a minha garagem, deixando apenas um espaço mínimo para o carro sair, na verdade não dava pra sair e por sorte, eu havia chegado de viagem e não queria mesmo sair.. Mas imaginaram o problema se eu quisesse?
É nesse momento que eu entendo quando a fé dos outros incomoda, porque me incomoda. E não incomoda pelo fato de eu ser Ateu e não professar a mesma fé que eles e sim pela imposição de ter de aceitar a manifestação alheia de fé na minha área residencial.. A minha esquina vive cheia de oferendas, a rua cheia de carros mal estacionados, e pelo menos 1 vez por mês o barulho das festas incomoda o meu descanso de domingo.
Se eu for reclamar na Prefeitura ou até mesmo na polícia, terei problemas (não sei se é permitido por Lei montar um centro religioso em qualquer área, mas acredito que não deva ser), e vou ser taxado como perseguidor de religiões de matriz africana.. Será?
Fico quieto até a gota furar, ou eu mesmo resolver me mudar daqui.
É como diz o ditado "a fé move montanhas", montanhas de dinheiro nesse caso..

Eu li essa reportagem sobre perseguição contra religiões e resolvi mostrar que sempre existem 2 lados em uma história, por mais que achemos errado o outro lado..

http://oglobo.globo.com/sociedade/levantamentos-mostram-perseguicao-contra-religioes-de-matriz-africana-no-brasil-13550800

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