Jogadores de futebol brasileiros na Espanha estão sempre sendo chamados pela torcida de macacos, "monos" em espanhol. Isso gera uma revolta e uma onda anti-racismo imensa, nas mídias digitais e impressas aqui no Brasil. Foi o caso do Daniel Alves anos atrás e mais recentemente do Vinicius Jr, do Real Madrid. O Daniel Alves comeu uma banana que foi atirada nele pela torcida. Pra mim, um claro revide, uma resposta inteligentíssima, para dizer que o gesto racista da torcida não o atingia nem o ofendia. O caso do Vini Jr é mais contundente, porque ele sim, se ofende muito quando a torcida o ataca chamando de macaco, talvez pela criação pobre, tenha sofrido muito com esses ataques toda a vida. O certo é que é claro que o ato em si é um bullying em massa sobre um jogador jovem, negro, estrangeiro, e que tem praticamente nenhuma identidade com a cultura local, assim mesmo é uma atitude repulsiva.
O ato em si de chamar alguém de macaco não deveria ser uma coisa tão agressiva, afinal, biologicamente falando, somos sim, TODOS macacos. Primatas, macacos, símios, são todos termos pra dizer a mesma coisa, que nós humanos somos um tipo de macaco. Mas, mesmo assim, chamar um ser humano de macaco, nos dias de hoje, e sempre foi assim, tem uma intenção só, e essa intenção sim é repulsiva e criminosa, porque trata de colocar o outro numa situação de inferioridade racial, social ou econômica, ou quem sabe os 3 juntos, muitas vezes. A palavra é macaco mas poderia ser outra qualquer que surtisse o mesmo efeito.
Mas o que torna a atitude de chamar o outro de macaco tão repulsiva? Chamar o outro com nomes de animais sempre foi uma forma de ofender, ao se tentar igualar algumas características destes animais com as da pessoa.. mas poucas pessoas se ofenderiam ao serem chamados por animais comuns. Existem sim alguns que são especificamente ofensivos no senso comum, como vaca, galinha, burro, porco, baleia, veado.. e claro, macaco. Esse fenômeno de chamar o outro de macaco não é um fato que ocorre apenas com negros, como poderíamos pensar nesses casos. Na história humana outros grupos já se referiram a outros com esse mesmo termo de forma pejorativa.. Japoneses do norte chamavam os japoneses do sul de macacos (ou vice-versa não sei), os nazistas alemães chamavam os poloneses de macaco, e óbvio, a sociedade ocidental chama de macaco aqueles que tem pele negra. Uma forma de dizer que o macaco é menos evoluído também não faz sentido do ponto de vista da ciência evolutiva, porque se está vivo é porque está adaptado a seu ambiente, então não existe como dizer que é menos ou mais evoluído, somos igualmente evoluídos a qualquer espécie de macaco viva, e cada um vive num ambiente diferente.
Outra explicação fala de estranheza ao diferente. Os grupos étnicos ao se encontrarem e misturarem nas primeiras vezes, tiveram uma certa repulsa e estranheza, um instinto de atração ou repulsa em relação ao igual e ao diferente, um fato bastante profundo dentro da psiquê humana e de outros primatas. Parece que os chipanzés, bonobos e gorilas ativam essa estranheza, pela semelhança, embora não seja uma semelhança tão grande, mas que ativa o modo de repulsa justamente por isso. Alguma mecanismo de defesa nos faz ter repulsa por algo semelhante mas que não é 100% igual. Alguns estudos de robótica falam sobre esse vale da estranheza.
O europeu nunca teve contato direto com a raça negra, e somente há algumas décadas, depois das independências das colônias africanas, esse contato se intensificou com a entrada em massa da população africana no continente europeu. O povo europeu é sim muito racista, e não é só em relação ao negro africano, mas a outras etnias e raças. O europeu tratava o negro como escravo nas colônias, como um ser inferior.. e aí o questionamento passa para um outro ambiente que não apenas o de ofensa ou de bullying.
Quanto a ofensa "macaco", na minha visão, a única forma que eu conheço de uma palavra deixar de ser ofensiva, ou deixar de ter uma conotação pejorativa, é quando as pessoas deixam de se ofender com ela. Não consigo enxergar uma outra maneira. É claro que isso não resolve o problema do racismo, nem no Brasil nem no Mundo, mas é um passo para se retirar um termo do rol de palavras que sugerem o racismo. Talvez um dia ser chamado de macaco possa vir a ser um elogio. Enquanto isso vamos tentando resolver com punições aqueles que querem humilhar o outro por não entenderem que somos todos macacos.
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