6 de novembro de 2022

[TEXTO] Pobre de direita

Sabe quem é o brasileiro classe média de direita? Esses 40 e tantos milhões de pessoas que junto com a elite, quase reelegeu o presidente '22'?



Vamos a um exemplo:
Aquele(a) dentista que se formou, montou seu consultório e cobra 1.500,00 numa consulta. Ele diz que batalhou, correu atrás, se esforçou e merece a posição que atingiu. Ele não aceita que o governo gaste verbas dos altos impostos que ele paga em programas sociais, auxílios etc. Ele quer liberdade econômica, ele quer investir dinheiro no mercado financeiro, não quer dividir nada com ninguém. Tem um carrão e um apartamento comprado em centenas de vezes e se sente no topo da cadeia.

Bem. Quando ele nasceu, sempre teve privilégios que ele naturaliza como normais, mas são normais na vida dele e não na da maioria da população.

Nasceu bem nascido, num lar limpo e seguro, teve acesso a escola, roupas limpas, saúde, transporte, diversas refeições diárias e diversão. Isso pra começar. Já saiu na frente numa corrida pra vencer na vida. Em comparação com a maioria da população ele começa no meio do caminho.

Estudou em boas escolas o que fez ele ter vantagem para entrar na universidade, e o que ele diz que foi esforço, não foi mais que a obrigação de qualquer universitário, estudar para se formar, as vezes virando noites, estudando finais de semana e feriados enquanto os amigos, estes sim da elite, estavam curtindo ao invés de estudar, porque não precisam. Mas ele esquece que sempre teve gente que lavava e passava a roupa branca dele, que fazia a comida rápida pra ele não se atrasar, que dirigia o taxi ou o ônibus que o levava até a universidade, que fazia compras de mercado enquanto ele estava na universidade, que limpava a casa e a roupa de cama onde ele dormia, entre tantas e tantas outras tarefas que quem faz está deixando o sonho próprio para poder sobreviver e talvez dar privilégios para seus filhos. Se formar numa universidade, em mba's, mestrados e doutorados é pra gente rica, se um pobre conseguir chegar nesse nível é preciso dar-lhe 10x mais créditos! 

O cara da direita, com seu emprego e seus privilégios não quer que o pobre tenha o mesmo que ele, não vê o pobre como um igual, quer manter ele ali, escravo, subserviente, para poder pagar 100/150 na faxina do seu apartamento em Ipanema, pra poder pagar preços bem baratos por serviços que ele nunca se dignaria fazer, não porque não consegue, todo mundo consegue, assim como todo mundo consegue estudar e virar dentista, se tiver as mesmas condições que ele. 

É claro, é claro! Não são todos assim. Existem milhares que entendem seu papel na sociedade e desejam devolver o tanto que tiveram de privilégios em forma de ações e atitudes sociais, a grande maioria desses jamais votaria num projeto de direita, nem estaria reclamando a derrota do '22', ocorrida nas urnas, dentro de um processo democrático.

Mudar a cabeça do brasileiro colonizador é uma tarefa muito difícil, talvez demore mesmo séculos para se conseguir, e talvez nunca se consiga 100%. Mas é preciso tentar e não apenas na conversa, mas nas leis. Não podemos aceitar que descendentes de escravos não tenham mais acesso as mesmas oportunidades que os descendentes dos colonizadores. Ou fazemos um país para todos ou seremos um arremedo de país. 

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