11 de agosto de 2022 - DIA 144
Fazem quase 5 meses que me mudei de Niterói e vou contar algumas coisas que eu pude perceber ao mudar radicalmente de vida. E porque digo radicalmente? vamos lá que vai ser longo.
A História da minha vida.
Bem, em primeiro lugar eu vivi em Niterói toda a minha vida. Quando criança em Icaraí, e depois em Piratininga com meus pais ainda casados. Depois da separação dos meus pais voltei para Icaraí, morei uns meses no Fonseca, depois casei e fui morar no apartamento que meus pais me deram no Vital Brazil (hoje Jardim Icaraí). Tive um filho e depois de 6 anos, separei. Aí voltei a morar na RO só que agora na região da Avenida Central, até que no final do ano passado minha mãe faleceu. Acho que esse foi o gatilho para eu começar a me preocupar comigo. Meu filho já está adulto e já não tenho mais aquele contato diário com ele, nem ele precisa mais tanto de mim, financeiramente falando.. sim, com 27 anos eu já era pai dele, então é hora dele crescer (mas isso certamente ainda não aconteceu na minha cabeça). Com a morte da minha mãe, me senti na obrigação de cuidar mais de mim, de olhar pra dentro. Afinal não tenho mais ninguém para cuidar. Acho que é isso!
Sair de Niterói.
Por que decidi sair da cidade que amo e sempre vivi? Essa decisão foi motivada por algumas coisas e listo elas a seguir:
- A casa onde eu morava continuava sendo habitada pelo marido da minha mãe, eu e ele apenas, coisa que sempre deixei bem claro que não queria quando ela se fosse. Dividir a casa com um estranho praticamente, que se alcooliza todos os dias e que não consegue formar uma frase, não era e nunca vai ser uma opção. Era uma escolha dela, que a gente respeitava mas não apoiava. A casa foi colocada a venda, mas sabia que ia demorar muito, e os quase 3 meses que fiquei lá sem minha mãe foram muito estressantes pra mim! O mercado imobiliário não estava favorável para venda, o que me fez perceber que teria que viver muitos meses, quiçá anos, junto com ele. Então precisei ver quais eram as minhas opções viáveis, e uma delas era sair de Niterói.
- As despesas em Niterói eram altas: conta de luz, empregada, gas, internet, compras de mercado, gasolina, diversão etc, que a aposentadoria da minha mãe ajudava a manter sem que tivéssemos que fazer tanto esforço, 2 salários pagavam a conta de 3 pessoas, e além disso sempre estou encrencado com cartão de crédito, sou um perdulário. #Fato
- As opções de aluguel em Niterói eram caras e ruins, uma casa de 2 quartos em um local decente de se morar (como onde eu morava) era algo em torno de R$2 mil pra cima. Opções mais baratas eram cubículos ou quartinhos, ou locais mais afastados, ou locais mais perigosos.. não era uma opção tbm. Morar na casa dos outros tbm não era uma opção que me agradasse, e olha que tive algumas propostas que claro não iam dar certo. Dividir o aluguel com outra pessoa tbm me passou pela cabeça, mas as pessoas que estavam disponíveis para isso com certeza iam me trazer mais aborrecimento que solução. Outra coisa importante é que em Niterói precisaria de fiador ou depósito, coisa que iria complicar, pois não tenho poupança para isso.
- O meu estilo de vida não ajudava muito. Eu trabalho o dia todo dentro de casa, sozinho, no final do dia fico doido pra ir pra rua, ver gente, respirar o ar, conversar, e por fim, só ia para bar, beber e conversar com gente q estava ali disponível, gente de bar, gente sem muitas afinidades.. gastava muito e aproveitava pouco. Acaba que as minhas amizades não me chamavam pra uma peça de teatro, pra um show, pra uma atividade ao ar livre, pra viajar, fazer um passeio, uma trilha, fazer um curso, estudar, trabalhar.. é só sair pra beber! pra churrasco. Nem praia o povo queria ir, quando ia era pra beber. É muito diferente do que eu imaginava como diversão saudável. Beber é um programa legal, mas não pode ser o único.
Opção Leopoldina - MG.
Há pelo menos uns 15 anos frequento a cidade que minha amiga Mille escolheu quando resolveu sair do Rio de Janeiro. Fica 4h de Niterói, indo de ônibus. É a cidade do pai dela, que tbm deixou o Rio com tudo pra voltar pra Minas. Ela casou, teve filho, se estabeleceu e comprou uma escola há alguns anos. Hoje ela tem uma estrutura de vida bastante estável aqui em Leopoldina. A escola proporciona a ela a possibilidade de viver sem precisar contar moedas. Ela tem o pai e mãe morando em frente. Ela tem amigos e toda a estrutura que a escola dá a ela. Não q isso em si traga felicidade mas isso é outro assunto. Então, essa estrutura pesou. Estou perto dela, posso viver minha vida tranquila, mas se precisar de alguma ajuda tenho a quem recorrer, em todos os sentidos, porque ela é uma pessoa que me ama mesmo com todos os meus defeitos, coisa bastante difícil nos dias de hoje.
Achei o apartamento, mil reais por mês, sem IPTU, sem condomínio, sem conta de Água, tudo incluído. Mille é minha fiadora, o dono do apartamento é um médico conhecido na cidade e mora em cima do meu apartamento. Não teve nenhum problema, assinei o contrato e mudei. Aqui pago Luz e Internet. A luz até hoje ainda não passou de 85 reais e a internet exatos 99,90. Meu gasto fixo mensal é de 1200 reais. Claro, tem comida, etc. Mas isso teria em qualquer lugar. Então fechei e mudei. 20 de março de 2022. Minha irmã e meu filho ("família legal" que eu chamo) vieram me ajudar na mudança. Pronto! sou Leopoldinense. Mudei até o título de eleitor pra cá.
5 meses em terras mineiras.
Não, não é uma maravilha como pode parecer. Aqui tem vários problemas. Vamos aos do apartamento.
Não bate sol, em lugar nenhum. A rua e a vizinhança é bem barulhenta, coisa que não estava acostumado em Itaipu. Cachorro aqui late de segunda a segunda 24h seguidas. Todo mundo aqui tem cachorro, cachorro tem cachorro! A vizinha de trás parece que mora dentro do meu apartamento, e fala alto, e fala o dia inteiro, e incomoda, e tem a voz chata e irritante, porque senão não chamaria vizinho.. o de cima (que é o dono do apê) dá pra ouvir os passos e o barulho quando levanta pra fazer xixi a noite, é perto, é junto demais. No mais, não tenho onde secar roupa, tem um buraco imenso na janela da área que vou ter q fechar pra não entrar bicho, o meu box está com o caimento de água ao contrário, ou seja, tenho q passar rodo toda vez que tomo banho ou fazer obra, a janela do quarto 2, quando chove, entra água, logo terei q colocar outra janela, e por fim, e o mais importante, não tem muita coisa o que fazer na cidade, afinal estamos falando de uma cidade de pouco mais de 50 mil habitantes.. não tem cinema, nem McDonalds 😜 nem feita livre, restaurante bom? nenhum. Aqui quase não tem peixe, só tilápia, e eu vivo a base de frutos do mar! que mancada, devia ter ido pro litoral.
Agora vamos falar das coisas boas.
Tudo é perto. Tudo dá pra ir andando em 15 minutos no máximo. Enchi 50 reais de gasolina e durou 1 mês. A cerveja de 300ml (cracudinha) é 3,50. Alguns bares nem cobram os 10%. Tem mais Flamenguista que torcedores de Galo e Cruzeiro, afinal isso aqui é quase Rio. No mês de julho e agosto tem exposição em todas as cidades da região. Festa p não acabar mais! Tá bom, é sertanejo, funk, pagode.. a praia está 4h de distância. Nem tudo é perfeito, mas tbm não é um inferno. Desde que mudei em março, nunca nem liguei o ventilador, aqui quando é frio é frio. Sei que o verão é o inferno de Dante, mas por enquanto tá lindão. A temperatura é melhor q Niterói.
Hoje saí pra almoçar e passar no mercado e enquanto comia, me passou uma coisa interessante na cabeça, um sentimento bom, agradável, de pertencimento. Eu hoje moraria em qualquer cidade sem problemas, eu consigo ser feliz em qualquer lugar onde tenho o mínimo de tranquilidade. Me senti livre, nada me prende. Amizades? Tenho 5 pessoas que me procuram quase q diariamente no whatsapp (Paola, Carol, Luana, Luciana e Gustavo), os meus outros amigos de Niteroi eram amigos, sem letras maiúsculas, nada de especial, afinal ninguém é tão especial assim, e eu já previa isso.. quando saí em março, dei 6 meses pra me esquecerem.. é mais ou menos o que está acontecendo. Viver em outra cidade, onde ninguém te conhece, onde vc senta num bar cheio e não tem ninguém pra conversar, nenhuma cara simpática conhecida, pode ser Niterói, aqui em Leopoldina, no Rio, em São Paulo, Buenos Aires, Barcelona, Belém, no interior de outro estado ou em outro país. Não somos importantes pra ninguém! não mesmo.. a não ser pra esses 4 ou 5 que ainda teimam em falar "oi" todos os dias por talvez serem tão solitários como eu e gostarem de ouvir o meu "oi". A gente se acostuma com as pessoas que estão a nosso redor, são amigos? são. São importantes? nem tanto. E a família? faz falta? no meu caso sempre fez, porque nunca tive contato direto com nenhum deles, nunca fomos uma família quente, grande e aconchegante, de abraços e beijos e hoje não os vejo muito, nem meu filho depois que ele cresceu, nem os meus irmãos, pois os 2 moravam no Rio, e nem o meu pai, q tbm mora no Rio. Só tinha contato direto com minha mãe, e agora ela se foi. Talvez seja essa a minha grande questão no momento.. minha família se foi, agora sou apenas eu. Será que é isso? "Se ouça falando" diria minha amiga Camila Menezes, nãosoboulogin, oquetetrouxeateaqui 😂
Mas a família é assim mesmo, os melhores personagens dos porta-retratos. E muitas vezes, é melhor que eles estejam apenas lá mesmo.. afinal um simples almoço de natal pode virar um inferno em tempos atuais. É, tem razão Juliana, "família é bom no porta-retrato", a não ser a "Família Legal", essa queria junto, perto, faz falta..😍😍😍
Solidão ou Liberdade?
Isso é ser sozinho? É? não estou me sentindo sozinho. Não mesmo. Pelo menos por enquanto. Choro as vezes? sim. Mas já chorava em Itaipu. Porque eu sou uma pessoa sensível (escuto Olivia Newton John), a vida as vezes pede lágrimas, viver é triste ou emocionante demais, as vezes, mas as vezes não é todo dia e nem sempre. Eu tô curtindo. Parece que estou viajando em uma cidade desconhecida, onde tudo ainda é novidade, cada rua, cada canto, cada pessoa. Preferia uma cidade maior e com mais agito? com certeza. Mas isso certamente seria tbm mais caro. Aqui eu to cabendo, tá no meu número. A hora que eu achar q tá apertado ou afrouxado demais faço as malas e procuro outro lugar. Agora aprendi que consigo, que não preciso me prender a limites que não existem, linhas que demarcam cidades, estados, países, profissões, família, amigos.. elas não existem, estão apenas nos mapas, nos livros, nos documentos, desenhadas e escritas por nós, humanos. Assim como todo o controle que sofremos dos governos, tudo invenção humana: impostos, números de identidade, cpf, cnh, passaporte.. nada disso seria necessário se o ser humano fosse um ser mais 'suça', sem tantas ambições de poder e dinheiro, sem tanta vontade de dominar o outro e ter mais posses que o outro.. enfim, filosofia. Liberdade e solidão passam por isso tbm. Mas hoje certamente eu sou mais livre, e mais só também. Liberdade é solidão. Solidão pode ser liberdade.
E você Marcos Senna?
Minha rotina continua bem parecida, eu diria igual.. trabalhando online, meus clientes fixos pagam minhas contas fixas, meus clientes esporádicos pagam meus pequenos luxos, não tenho dinheiro guardado, não tenho reservas pra emergências, não tenho coisas de valor. Vou receber um dinheiro da casa da minha mãe em breve, que vai servir pra terminar de montar minha casa e para colocar as finanças em dia.. talvez 1 ou 2 viagens maiores (ou seja, já tô pensando em torrar ao invés de guardar).. ou talvez montar alguma coisa que me renda mais um dinheiro fixo.. ainda não sei.
Deveria pensar na minha saúde, ter um plano, consertar meus dentes q estão horrorosos, emagrecer...? cuidar da pressão, diabetes, circulação.. e por aí vai.. tudo q cultivei no meu corpo por 55 anos. Procurar um cardiologista, um gastro, um urologista, um dermatologista.. sei q não vou. Vou beber mais vinho e mais cerveja! comer mais camarão, polvo e paella. Ir mais pra Buzios, pra Mauá e pra Itaipu. Os prazeres servem pra gente morrer homeopaticamente. Como eu não fumo e não me drogo então eu como e bebo, sou gordo, sou idoso, sou grisalho, não tenho mais vida sexual a dois, só a um.. 🙈😮 e não tenho grandes objetivos amorosos. Mas a cabeça é a mesma, a cabeça não envelhece com o corpo, a cabeça se acha magra, jovem, sexy, sente atração, tesão, desejo, gula e tudo mais! Mas o corpo nos coloca no nosso lugar e a gente se acostuma com isso ano após ano. Quando vejo pessoas sofrendo por amor ou por ter um corpo mais gordinho acho tão bobo, infantil, tão banal, mas no fim, a gente romantiza demais o que é amor e o que é beleza. Sempre estamos buscando o amor não importa a idade, e quanto mais idade mais bobo parece. Se vc não achou antes quando era jovem e bonito, não vai ser agora com tudo contra que vai achar. Então melhor nem pensar nisso. A gente vê uns romances na Netflix, enche os olhos de lágrimas e segue em frente. "Se ouça falando Marcos Senna" 😂😂😂😂😂
Bem. é isso, por enquanto. Terapia em dia! Quando alguma coisa mudar eu escrevo de novo.
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